terça-feira, 8 de setembro de 2009

À Palo Seco

Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava.
Sei que, assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
Mas ando mesmo descontente.
Desesperadamente eu grito em português:

- Tenho vinte e cinco anos de sonho e
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.
Sei, que assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
E eu quero é que esse canto torto,
Feito faca, corte a carne de vocês.


Composição: Belchior

quarta-feira, 22 de julho de 2009

BENDITO
Hoje vi a Adélia Prado falando no sempre um papo e recitando esse poema .
Louvados sejas Deus meu Senhor,
porque o meu coração está cortado a lâmina,
mas sorrio no espelho ao que,
à revelia de tudo, se promete.
Porque sou desgraçado
como um homem tangido para a forca,
mas me lembro de uma noite na roça,
o luar nos legumes e um grilo,
minha sombra na parede.
Louvado sejas, porque eu quero pecar
contra o afinal sítio aprazível dos mortos,
violar as tumbas com o arranhão das unhas,
mas vejo Tua cabeça pendida
e escuto o galo cantar
três vezes em meu socorro.
Louvado sejas porque a vida é horrível,
porque mais é o tempo que eu passo recolhendo despojos,
– velho ao fim da guerra como uma cabra –
mas limpo os olhos e o muco do meu nariz,
por um canteiro de grama.
Louvados sejas porque eu quero morrer,
mas tenho medo e insisto em esperar o prometido.
Uma vez, quando eu era menino, abri a porta de noite,
a horta estava branca de luar
e acreditei sem nenhum sofrimento.
Louvado sejas!
(Adélia Prado)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Poema "concretista"

Poesia em tempo de fome
Fome em tempo de poesia

Poesia em lugar do homem
Pronome em lugar do nome

Homem em lugar de poesia
Nome em lugar de pronome
Poesia de dar o nome

Nomear é dar o nome

Nomeio o nome
Nomeio o homem
No meio a fome

Nomeio a fome

Haroldo de Campos

Fábula de Millor Fernandes

O Rei dos Animais

Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: “Hei, você aí, macaco – quem é o rei dos animais?” O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: “Claro que é você, Leão, claro que é você!”.
Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: “Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?” E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: “Currupaco… não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?”.
Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: “Coruja, não sou eu o maioral da mata?” “Sim, és tu”, disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. “Tigre, – disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?” O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: “Sim”. E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou.
Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: “Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?” O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: “Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado”.

M O R A L: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSÃO QUE BEM ENTENDE.

Poesia do Recital

Opostos


Há opostos que se atraem comprovadamente, o positivo e o negativo o dia e a noite, a sombra e a luz, o giz e o carvão o leite e o café. Como dizia o escritor Pedro Bandeira, somos todos muito diferentes, mas dependemos um do outro. Para vivermos não dependemos de nossas cores e sim do propósito de nossas vidas.


de Amanda Carolina Lopes do CoutoTombos - MG - por correio eletrônico
Encontrei neste blog http://sitedepoesias.com.br/poesias/35182


Dados estatísticos do IBGE, os negros são menos de 10% da população brasileira.
Inserir o negro no contexto nacional, não é uma questão de cotas racial, é um direito.
A data escolhida 20 de Novembro foi pra coincidir com a morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.
Desde a década de 60, o dia é celebrado, embora só agora ficando mais ampliado e participativo.
A data era comemorada no dia 13 de Maio, Dia da Abolição da Escravatura.
Comemorar a data 13 de Maio tem sido rejeitado por enfatizar a generosidade da Princesa Isabel.
O movimento negro o maior do país, organiza palestras e eventos educativos que visam principalmente ás crianças negras, procuram evitar o auto/preconceito perante a sociedade.
Nada mais justo e merecido, eu me pergunto por que só um dia no ano?
Será que o grande Zumbi não merece mais, sonhou ser livre o primeiro grito de liberdade no Brasil
Cotas universitárias, inserção do negro no mercado de trabalho, não é favor é direito e dever do estado.
Isso vem demonstrar claramente o quando o estado deve aos negros e seus descendentes, justiça social.
Entidades no Brasil afora tentam proteger os negros tentando por todos meios que se façam cumprir as leis que nos protegem.
Num país miscigenado, os chamados "pardos" que são os mestiços de negros com europeus ou índios é quase a metade a população.
Consciência só não basta tem que haver oportunidade e igualdade de condições, não pode cobrar nada de alguém se não dermos condições de fazê-los
Isso é um direito básico entre aos povos igualdade de condições, pois a vida é feita de oportunidades iguais entre os diferentes, pois todos são capazes.
Abolição da escravatura na verdade tem que ser feita todos os dias, ainda falta muita pra sermos realmente iguais principalmente perante a lei.
Não dar pra entender o porquê de um ser escravizar outro isso é uma aberração dos que dizem serem humanos.
Espero um dia acordar e vermos que realmente somos todos iguais, será que meus bisnetos ou tataranetos vão ver isso?
Garanto que esse é um
sonho possível, basta apenas aos governantes serem mais ativos e participativos e os meus irmãozinhos negros irem à luta
Resta aos homens de boa vontade
acreditar a nossa constituição que nos dar esse direito, "todos são igual perante a lei", pena que essa lei ás vezes fica no papel.
Agora nos resta dizer que se cumpra a lei, no Brasil tem disso umas leis pegam e outras não, principalmente aquela que favorece
a maioria dos brasileiros.

José Aprígio da Silva, um negro/pardo nascido em Maceió/AL em Novembro de 1959. No mesmo estado onde Zumbi sonhou com uma nação livre. Só mesmo o homem é capaz de escravizar os seus semelhantes. Viva, e mais viva pro grande Zumbi o Guerreiro que há 313 anos sonhou ser livre e com direito puro de ser livre. Hoje ainda sonhamos o mesmo sonho do grande "Guerreiro Zumbi", voar o sonho da liberdade.

José Aprígio da Silva.
Águas Linda de Goiás/GO
Sexta-feira, 14/11/08 - 16h17
Falando de Poesia

Eu quero poetar,
juntar letrinha por letrinha
conseguindo fazer rimas
para dizer que a Poesia
é tudo que tenho pra te ofertar.
Hoje é dia da poesia
Será?
Acho que todo dia é dia de poetar!
Poeto para meus amigos
porque gosto de poetar
.Poeto para a rosa em botão
até vê-lá despetalar.
Também poeto para o beija-flor,pássaro do amor...
que se alimenta do néctar das flores
que me trazem inspiração
e pousa na minha janela
para me ver poetar.
Ah! Poesia!você com rima ou sem rima
faz bater o coração de todo poeta
que vive a poetar.
Meus poetas amigos
Meus amigos poetas
Parabéns a vocêsque fazem a poesia decantar.
Soltem a poesia no ar...
Hoje é o seu dia!
(Anônimo)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Análise Filme Billy Eliot

Billy Eliot é um filme intrigante e comovente que leva a gente a experimentar sensações de varios tipos; dentre elas posso destacar a revolta com o preconceito e a incompreensão das pessoas como o sonho de Billy.
Tendo ocorrido eu período de crise, ele revela a fragilidade de um sistema econômico. A Inglaterra passava por uma crise econômica e sua população um mau tempo, e nesse meio de confusões com greves, falta de dinheiro e crise familiar, Billy se identifica com a dança e sua magia. Mas, tem um pai machista, que queria ver Billy lutando boxe e para realizar seu sonho colocou o menino em uma academia de boxe.
Porém, a dança estava no sangue de Billy, e ele descreve a sensação de dançar com a frase: ''Quando danço é como se um fogo tomasse conta de mim!''. Assim, foi natural a sua intrusão no mundo do balé. Ele foi guiado por uma professora em ruína que acreditando no seu potencial, o inscreveu para fazer um teste en uma grande escola de londres.
Esse filme, além de nos emocionar com a simplicidade do menino que só queria dançar, nos encanta com a capacidade de transformação do ser humano.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A pessoa errada
Pensando bem, em tudo o que a gente vê, e vivencia, e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa que, se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho. Chega na hora certa, Fala as coisas certas, Faz as coisas certas, Mas nem sempre a gente está precisando das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada. A pessoa errada te faz perder a cabeça Fazer loucuras Perder a hora Morrer de amor A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar Que é pra na hora que vocês se encontrarem A entrega ser muito mais verdadeira A pessoa errada é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa. Essa pessoa vai te fazer chorar Mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas Essa pessoa vai tirar seu sono Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível Essa pessoa talvez te magoe E depois te enche de mimos pedindo seu perdão Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado Mas vai estar 100% da vida dela esperando você Vai estar o tempo todo pensando em você. A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo Porque a vida não é certa Nada aqui é certo O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo. E só assim é possível chegar àquele momento do dia Em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo" Quando na verdade Tudo o que Ele quer É que a gente encontre a pessoa errada.Pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra gente... Nossa missão: Compreender o universo de cada ser humano, respeitar as diferenças, brindar as descobertas, buscar a evolução. =]

sábado, 6 de junho de 2009

Telas de Hieronymus Bosch


Esta imagem é uma tela de Hieronymus Bosch, O jardim dos prazeres terrenos,1504, que está no Museu do Prado em Madri.
Apesar de perseguido, o homossexualismo esteve muito presente na Idade Média. Segundo John Boswell, autor de Christianisme, tolérance sociale et homosexualité (Cristianismo, tolerância social e homossexualismo), a prática teve uma importância no período que só seria igualada em nossos dias. Boswell atribui a disseminação do homossexualismo à renascença carolíngia, ao desenvolvimento das cidades e à cultura eclesiástica. Na Idade Média, o meio monástico era um terreno propício para a sodomia: a Regra de São Bento previa que os monges deviam dormir cada um em uma cama, de preferência em um mesmo local, com sacerdotes mais antigos que cuidariam deles. Os regulamentos de Cluny proibiam que os noviços ficassem sozinhos ou na companhia de um só professor. Se um dentre eles, à noite, tivesse de sair para satisfazer suas necessidades, tinha de estar acompanhado por um mestre e por outro jovem munido de lanterna.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O que é Menestrel ?
Menestrel, na Europa medieval era o poeta bardo cuja performance lírica referia a histórias de lugares distantes ou sobre eventos históricos reais ou imaginários. Embora criassem seus próprios contos, muitas vezes memorizavam e floreavam obras de outros. À medida que as cortes foram ficando mais sofisticadas, os menestréis eram substituídos por trovadores, e vários deles tornaram-se errantes, apresentando-se para a população comum, tornado assim os divulgadores das obras de outros autores.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Falando Sério (Claudia Leite)
Falando sério...
É bem melhor você parar com essas coisas
de olhar pra mim com olhos de promessas,
depois sorrir, como quem nada quer
Você não sabe,mais é que eu tenho cicatrizes que a vida fez
e tenho medo de fazer planos
de tentar e sofrer outra vez
Falando sério...
eu não queria ter você por um programa
e apenas ser mais uma em sua cama
por uma noite apenas nada mais
Falando sério..
entre nos dois tinha de haver mais sentimento
não quero seu amor por um momento
e ter a vida inteira pra me arrepender.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Recital de ´Poesia Negra

ENCONTREI MINHAS ORIGENS
Encontrei minhas origens
Em velhos arquivos
Livros
Encontrei
Em malditos objetos
Troncos e grilhetas
Encontrei minhas origens
No leste
No mar em imundos tumbeiros
Encontrei
Em doces palavras
Cantos
Em furiosos tambores
Ritos
Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma
Em mim
Em minha gente escura
Em meus heróis altivos
Encontrei
Encontrei-as enfim
Me encontrei

Oliveira Silveira
Roteiro dos Tantãs

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Atividade de Português

obra de arte que se relacione com o Barroco e apresente em que aspectos elas se aproximam e se distanciam.


Catedral de Santiago de Compostela

A arte Barroca é aquela arte bem trabalhada, e na imagem voce pode observar que contem bastante detalhes, a arte barroca vinha muito a mostra a religiosidade e tambem como propaganda para os valores da igreja católica.


Atividade de Português
obra de arte que se relacione com o Classicismo


"Pietá" de Michelangelo"

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Análise Critica do texto de Jurandir Freire Costa, Dias de Sombra, dias de luz
Em análise critica do texto podemos observar o que nossa sociedade esta vivendo, uma realidade que esta a cada dia se tornando mais comum, e isso vem acontecendo também por falta de um melhor investimento na educação, que é uma base de grandes mudanças.
A cada dia que acompanhamos noticias nos jornais,revistas etc, vemos casos inaceitavéis como o a morte de Isabela Nardoni e João Hélio, crianças inocentes que sofreram com a irresponsabilidade de um ''espectro humanoide'', como o adolescente que participou da morte de João Hélio que diz não saber o que significa o que é amar ou perder um ser amado a quem se deu a vida, será que isso justifica seu ato de tamanha crueldade? No texto o autor nem o defende nem o julga expõe seu modo de analisar essa situação, mas alguns cidadãos se acham no direito de julgar certo ou errado as pessoas apenas pelo ponto de vista das mesmas, sem ao menos conhecerem verdadeiramente as causas.

Não devemos ser pessimista, pois não há nenhum problema que não possa ser resolvido, e que a cada dia de sombra sempre haverá um dia de luz.

Como diz o texto: ''Sem o sonho de que os tempos sombrios passarão, viver serve para quê'' ?

Dias de sombra, dias de luz

Jurandir Freire Costa
Sem o sonho de que os tempos sombrios passarão, viver serve para quê?
Começo pelas sombras. O Brasil vive uma escalada da violência urbana desorientadora. Quando a lista de atrocidades parecia esgotar-se, aparece mais uma figura do medonho, do horror dos horrores, a morte do menino João Hélio. Será que somos uma aberração coletiva apelidada de nação? Será que somos uma civilização sem amanhã? Talvez sim, talvez não. Seja como for, para evitar o dano mais grave é preciso admitir o evidente: criamos uma sociedade inconseqüente que se vê a braços com o pior efeito da inconseqüência humana: a carnificina monstruosa, na qual crianças matam crianças, sem se dar conta da imoralidade do que estão fazendo.
O assassinato de João Hélio por um adolescente que afirmou “não saber o que significa perder um filho assassinado porque nunca teve filho” mostra a face disforme do imaginário da terra de palmeiras onde cantam sabiás. O adolescente que disse ignorar o que é a dor de perder um filho assassinado porque nunca teve filho, exibiu, sem se dar conta, sua patológica cegueira de valores. Mas, sobretudo, mostrou que nunca teve a chance de saber o que é um pai, uma mãe, um filho, enfim, o que é amar e perder um ser amado a quem se deu a vida. Ao ser privado dessa experiência afetivo-moral básica, o jovem criminoso também foi privado de conhecer a distinção entre o justificável e o injustificável. A impiedosa engrenagem da miséria triturou sua capacidade de introjetar o sentido ético do que Levinas chamou de “infinita responsabilidade pelo Outro”!
Aí, porém, reside a trágica antinomia da condição humana. Apesar de não ter controle sobre as causas que o levaram a agir como agiu, o garoto é responsável pelo que fez, a menos que o consideremos um puro espectro humanóide, o que seria incomensuravelmente mais desumanizante. Podemos, é claro, conceder-lhe o benefício da ausência de consciência plena do crime cometido; podemos olhar com clemência a dolorosa história de vida que o fez praticar o que praticou, mas não podemos isentá-lo da autoria do seu ato. Conclusão: é nosso dever ético condenar e procurar mudar, por todos os meios possíveis, regimes socioeconômicos que favoreçam a formação moral de pessoas sem consciência do que seja crueldade. Caso contrário, estaremos permanentemente expostos a um terrível impasse ético, qual seja, não saber como julgar alguém que não teve condições de dar sentido a palavras como culpa, crime e castigo.
Renato Janine Ribeiro, ao comentar o homicídio do menino João Hélio, exprimiu esse mal-estar. A fantasia de vingança contra o assassino que lhe veio ao espírito, entretanto, nem significou incitação à tortura - longe disso!-, nem neutralidade moral em relação ao Bem e ao Mal. De minha perspectiva - e pode haver outra que não seja pessoal? -, ao escrever o que escreveu, ele pensou em carne viva e revelou um aspecto recalcado de nossa cultura, o convívio promíscuo com a barbárie. Reagindo como reagiu, mostrou o barro de que todos somos feitos, e seu discurso, por isso, foi objeto de numerosas contestações. Compreendo o sentido das objeções feitas, mas não concordo com a maioria delas.
Nós, universitários ou acadêmicos, não somos anjos prudentes com uma régua de virtudes à mão, prontos para dirimir, judiciosa e incansavelmente, o que é joio e o que é trigo. Nossa tola vaidade nos faz pensar, muitas vezes, que “os outros”, os incultos ou conservadores, podem tropeçar na própria ignorância e não saber o que dizem ou dizerem “não sei”. Nós, não! Nós somos embaixadores do Iluminismo, do Humanismo ou de qualquer outro “ismo”. Por conseguinte, vir a público falar do que sentimos em momentos de comoção moral e intelectual significa confessar o pecado leigo de lesa-razão! Crime, diz-se, é com a justiça, e fora da justiça não há salvação. Porém, o que chamamos de justiça, entendida como lei ou direito instituídos, não nasce da cabeça de Zeus. Nasce de um sentimento anterior, pré-reflexivo e pré-racional, adquirido mediante experiências psicológico-morais primárias, que ao longo das vidas pessoais e da vida cultural tornam-se familiares. Acontecimentos extraordinários do ponto de vista moral podem, assim, fazer-nos hesitar quanto à propriedade e a natureza do que julgamos justo ou injusto. Nestas situações, o moralmente indecidível pode emergir, posto que a enormidade do fato ocorrido força-nos a oscilar, de modo ambivalente, entre o “impiedoso, frio e impessoal” e o “compassivo, passional ou leniente”. Esse é um dos efeitos mais nocivos da anomia cultural: suportar a dúvida de estar sendo, simultaneamente, injusto com a vítima e com o algoz. No caso de João Hélio, como decidir entre a piedade devida a cada um e a equanimidade devida a todos? O que é mais justo: pedir o endurecimento na punição do responsável pela morte de uma criança inocente brutalmente assassinada ou argumentar, em favor do adolescente assassino, que ele jamais teve condições de entender, por questões psicológico-sociais, que o direito à vida é uma prerrogativa de qualquer ser humano?
Pode-se responder: podemos ficar ao lado dos dois, escolher um lado contra o outro, ou não querer pensar no assunto, pouco importa. O fundamental é que isto é da alçada da justiça válida para todos e não do arbítrio voluntarista ou dos espasmos emocionais de um só. Em parte, é verdade. Mas qual justiça, volto a perguntar? A dos códigos e protocolos ou a da aspiração ao respeito absoluto e inegociável pela singularidade do outro? O dilema é mais difícil do que se costuma fazer crer. Como bem apontou Olgária Mattos, não por acaso, Adorno, no julgamento dos nazistas, foi levado a dizer algo mais ou menos assim: não faria o menor gesto para condená-los à morte; não faria o menor gesto para poupá-los da morte! No mesmo tom, não foi algo semelhante que levou Hannah Arendt a dizer que há crimes sem perdão, pois aqueles a quem competeria perdoar já não podem mais fazê-lo, por terem sido mortos?
Naturalmente, o infeliz garoto assassino não é um nazista. Ele é um sobrevivente social a quem foi sonegada a mais elementar possibilidade de valorizar a vida do próximo. Isso - creio e defendo - é razão suficiente para julgarmos seu crime com indulgência, mas não é motivo para recalcar o horror que podemos sentir, ao imaginar o que João Hélio sofreu e o desespero alucinadodos pais que viram o filho ser morto como foi. O gênio da língua tarda, mas não falta. Dispomos, em português, de uma palavra para designar filhos que perdem pais, qual seja, “órfão”; não dispomos de palavra alguma para nomear o que se torna um pai ou uma mãe que perde um filho. Este estado é feito de uma dor que não se inscreve na linguagem. Ele é provação extrema; é o mais escuro vazio e a mais lenta agonia; é algo que nenhuma lágrima apaga, porque é a nudez implacável da morte no coração de uma vida que gostaria de não mais ser, e, que, no entanto, é obrigada a continuar sendo.
Diante dessa desmedida, afirmar que não se sabe o que fazer ou que se pode experimentar desejos de retaliação não significa jogar a ética na lama; significa mostrar que a malignidade de algumas circunstâncias sociais podem fazer o discernimento ético vacilar. Para alguns, isto é retórica vazia ou falta de coragem para tomar partido. Mas agir e pensar com justiça não é questão de tomar partido; é questão de experimentação sócio-moral, como sustentaram James, Dewey, Rorty; é questão de apostar, sem garantias e com riscos de frustração, na boa-vontade de nossos parceiros de vida em comum; é questão, enfim, do “perigoso talvez”, tão repetido pelo saudoso Derrida. O que fazer, então, para sanar este estado de coisas? Não há resposta fácil. Como, por exemplo, combater a secular injustiça brasileira, reforçando, ao mesmo tempo, as instituições democráticas, se dependemos, para isso, de parlamentares, que, na maioria, sequer se dão ao trabalho de ocultar do público a baixeza de seus mesquinhos interesses? Como fazer deste país um país tolerante, se os líderes intelectuais, empresariais, políticos etc, comportam-se como fanáticos encastelados em seitas ideológicas, sempre prestes a renunciar ao diálogo e à persuasão e a desqualificar com arrogância ou desdém a opinião do opositor? Como, enfim, restaurar o princípio da boa-fé atribuível, em primeira mão, ao outro, se vemos líderes políticos mentir despudoradamente ou empresários da locomotiva agrícola falando de “liberalismo”, enquanto literalmente escravizam ou deixam morrer por exaustão física seus empregados?
Não sou derrotista ou desistente. Há coisas nas quais podemos acreditar porque existem e podem ser feitas. Dou dois exemplos. O primeiro é o da conversa recente entre o ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, e três governadores recém-eleitos. O ex-prefeito foi direto ao ponto: “polícia sem cidadania e sem reforma urbana é o mesmo que nada”. E, prosseguiu, “quando era prefeito, ao invés de gastar US$ 2,2 bilhões em auto-estradas que beneficiariam 15 %o da população de Bogotá, decidi usar o dinheiro em transporte público, e, com o que sobrou, investir em escolas de qualidade, bibliotecas, parques, ciclovias e melhorias das calçadas. Nós demos a cidade aos pobres que não tinham como usá-la”.
Tão simples quanto isso. Por que, então, já não fizemos o óbvio? Porque, de um lado, o arcaico senhoriato empresarial-político brasileiro empenhou-se em fabricar uma caricatura dos mais pobres como um bando de desclassificados indolentes, reprodutores irresponsáveis de criaturas que não sabem como alimentar e educar, e que, por isso mesmo, não merecem viver na mesma cidade que eles; de outro, porque boa parte dos que têm poder de agir na esfera pública e criticam essa concepção indigna do povo brasileiro demitiu-se, por cansaço ou decepção, da tarefa de formar uma elite comprometida com um projeto de nação. Elite, como bem disse a ministra Marina Silva, não é sinônimo de oligarquia vampiresca. Elite são os melhores; os que pensam e agem com a consciência da responsabilidade pública que têm, em função do poder social e da autoridade moral que souberam conquistar no legítimo exercício de seus talentos e competências.
Encontramos, neste ponto, o segundo exemplo, que nos foi dado a ver pelo cineasta João Jardim, em seu belo documentário Pro dia nascer feliz. O filme trata da escolarização de adolescentes brasileiros de pequenas cidades rurais do Nordeste, da periferia das grandes cidades do Sudeste e da alta classe média paulistana. O resultado é impactante. Como seria previsível, presenciamos a trajetória de garotos que terminaram cometendo crimes e foram parar nos aviltantes centros de detenção de menores. O mais importante, contudo, é a surpresa de testemunhar o vigor do desejo de auto-realização e de justiça que anima tantos jovens brasileiros que ainda não sucumbiram á lavagem cerebral do “este país não presta”. Da humilde garota pernambucana que supera obstáculos gigantescos para concretizar suas aspirações literárias ao depoimento de duas garotas da escola paulistana, o que vemos é o desenho humano do que deveria ser uma verdadeira elite. O caso das garotas privilegiadas, em especial, é ainda mais eloqüente, pois contraria em tudo o clichê de alienação e insensibilidade colado aos jovens desse grupo social. Em uma cena, duas dessas garotas conversam, e, ao se referirem à injustiça social que lhes deu tudo, privando a maioria de quase tudo, uma delas diz: “São dois mundos separados”. Ao que a outra, com uma acuidade intelectual cirúrgica, responde: “O pior é que não são dois mundos, é um mundo só”.
Eis uma das chaves da saída: um só mundo, um só povo. Com essa simples consciência, esses brasileirinhos decentes e encantadores mostram que possuem o senso de pertencimento a uma mesma comunidade de tradições, e, portanto, são capazes de reconhecer o direito dos demais ao mesmo respeito e oportunidade que lhes foram dados. No mundo deles - se permitirmos - mortes de inocentes como João Hélio serão lembradas, apenas, como dias de sombras que antecedem os dias de luz. No mundo deles - se permitirmos - a referência do pronome “nós”, na sensível expressão de Rorty, será estendida a todos os brasileiros e a todos aqueles que elegerem nosso país como um bom lugar para se viver. Sonho de bobo alegre, dirão os cínicos. Talvez. Mas - plagiando a rústica Macabéia de Clarice Lispector -, sem esse sonho, viver serve pra quê?

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Carta de Repudio a Empresa eunapolitana enviada ao radar 64 por uma internauta

Internauta dispara críticas ao transporte urbano de Eunápolis
Por Camila Prtz Simões, para o EU-REPÓRTER no site Radar 64
Comentários (19) Versão para Impressão Enviar para Amigos

Eu sinto a carne tremer, o forte cheiro de ódio, sinto dor nos meus ossos, paralisia constante. Onde eu estou agora? Estou num ponto de ônibus na linda cidade de Eunápolis. Dependo completamente da bondade burguesa dos ônibus da empresa Eunapolitana. Chego a ficar horas esperando alguma linha para que eu possa chegar até o meu destino, e não tenho sangue de barata!Repudio qualquer falta de respeito com o consumidor, quanto mais a um consumidor de muitos anos, que paga caro para usufruir dos mínimos serviços que oferecem. A condição mecânica dos veículos é gritante até mesmo para quem não entende do assunto. A boa aparência e o conforto não existem, sem contar da imprudência de alguns motoristas.
Como se já não fosse um absurdo, tenho que desfrutar do mau-humor dos cobradores, que em vez de apaziguar toda uma situação desconfortável, agem como ditadores. Não é exagero não, e muito menos sensacionalismo, isso se chama descontentamento. Cheguei a perder compromissos impreteríveis, que me causaram sérios danos, e não houve quem me remunerasse.No fim do ano, houve um aumento de 25% da tarifa, um absurdo, pois não teve nenhuma mudança significativa para tal modificação; as linhas, os horários e o tec-tec dos ônibus continuaram os mesmos. Mas para a minha surpresa, fui informada que a empresa acabara de ser vendida para o atual prefeito da cidade, que por grande coincidência já está com seu mandato ao fim.A sensação que tenho é que estou vivendo em pleno século XXI em uma sociedade Absolutista, onde o poder está concentrado na mão de um só – quando na verdade são vários –,tomado pelo monopólio comercial e sua “bondosa” burguesia. Estou só nessa viagem?

sábado, 18 de abril de 2009

O que é literatura?

No dicionário o que é literatura vem definido da seguinte forma: Conjunto das composições de uma língua, com preocupação estética, o conhecimento das belas-letras; o conjunto de trabalhos literários de um país ou de uma época; os homens e letras; a vida literária. Mas será que a literatura é isso?

Em outros pontos de vista, podemos definir a literatura como a arte, criação de uma pessoa ou seja personagem, a simulação de uma vida, refúgio nas palavras, imaginação, sentimento, realidade, e principalmente uma manifestação artística.

As obras literárias apresentam um estilo de época diferente, pois a cada obra é uma manifestação de sentimento de um escritor que faz com que sua obra fique a seu estilo próprio e único.

A literatura é a realidade criada através do artista e transmitida através da poesia, pecas de teatro, ficção em prosa e escrita.

Enfim a literatura é um instrumento de comunicação, pois ajuda a compreender nós mesmos e o comportamento do homem ao logo do tempo, e a partir disso refletir sobre nós mesmos.


domingo, 8 de março de 2009

Poesia e Literatura

"Nosso medo mais profundo não é de ser inadequado. Nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, o que mais nos assusta. Nós nos perguntamos, 'Quem sou eu para ser brilhante, interessante, talentoso e fabuloso?' Na realidade, quem é você para não ser? Você é um filho de Deus. Você fazer o papel de pequeno não serve ao mundo. Não tem nada de iluminador em se encolher de forma que outras pessoas em volta de você não se sintam inseguras. Nós nascemos para manifestar a glória de Deus que está dentro de nós. E não está só em alguns de nós, está em todo mundo. E quando a gente deixa a nossa própria luz brilhar, nós, inconscientemente, damos a outras pessoas permissão para fazerem o mesmo. Quando a gente se liberta dos nossos medos, nossa presença automaticamente liberta os outros."
Nelson Mandela - 1994

quinta-feira, 5 de março de 2009

Natália Vianna


~ Não decore pαssos, αprendα o cαminho :)